De pequeno me interessei pelo sobrenatural, o popular malassombro, e causou-me estranheza quando, ainda garoto, vi os desenhos representando a mula sem cabeça como vemos hoje, literalmente sem cabeça. Aprendi, pela oralidade popular no interior de minha infância, Palmerina - PE (minha Pasárgada) que a criatura era uma mulher amaldiçoada por conta de sua relação pecaminosa com um padre, que em noites de lua cheia (achava que era só o lobisomem) galopava enlouquecida, com os cascos soltando faíscas, os olhos em brasa e das ventas soprando fogo ... nunca pensei nela sem possuir a cabeça.
Minha experiência e vivência na História me levou a juntar algumas peças que possa explicar a perda da cabeça na criatura lendária. Pela ideia mais antiga referi-se aos olhos e narinas, acredito que o termo "sem-cabeça" se refira a ausência de lucidez e suas ações agressivas. Com o passar do tempo a lenda foi perdendo espaço, ficando em segundo plano, e apenas o nome da criatura permanecendo na memória popular, assim, o "sem-cabeça" tornou-se literal e cortaram fora a cabeça, deixando o fogo saindo do pescoço.
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Desenho pego da internet só para referenciar o contraste. |
Na minha opinião, não é uma questão de certo ou errado, uma lenda é viva, ela nasce e se desenvolve no imaginário popular, não é algo fixo, preso ou concretado.
Trabalhei na ilustração usando a foto deste cavalo, a cima, como base do desenho, tirei a silhueta básica e a estrutura anatômica e fui trabalhando na pintura, focando muito na textura e nos volumes ...
... Por fim trabalhei nos efeitos da luz e no olho, meu objetivo era deixá-lo mais insano e assustador possível.
Dai fechei com a neblina, deixar ainda mais sinistro.
Foi uma ótima experiência, trabalhei a pintura digital, consegui ser bem sucedido em reproduzir a textura e os volumes anatômicos do cavalo, e ainda mais em trabalhar os efeitos de luz e neblina. Estou satisfeito com o resultado.